Igreja de São Sebastião, centro de Barra Mansa Foto: César Dulcidi |
O poeta morava no centro, provavelmente perto da igreja e tudo leva a crer, conforme revela em seu livro o historiador Alan Carlos Rocha, que a trova surge inspirada a partir do seu desassossego ou desconforto por causa do barulho. Ora bolas é uma expressão de sentido diversos. Pode significar indignação, atanazamento, um desabafo ou “deixa-pra-lá”. Na trova de Rangel, foi a segunda.
ORA
BOLAS
desde
cedo os ouvidos me atazana
pesado
sino que me fica ao lado;
e,
deste modo, à força despertado,
busco
em vão conseguir nova pestana
dentre
fofos lençóis zurzo com gana
quanto
vil sacristão há no bispado;
se
é de bronze o badalo tresloucado
não
é de bronze a paciência humana
de
que serve pregar padre taurino
em
rasgos de estafante discurseira
a
branda caridade, o amor divino?
é
porventura “amor” esta inferneira?
é
“caridade” despertar a sino
quem
na pândega andou a noite inteira?
SUPLÍCIO
chega-se
a gente ao telefone e pede
um
número qualquer “central” ou “vila”
mas,
a telefonista que refila
a
ligação pedida não concede
diz
ela, galhofeira, lá na sede
que
o número em questão não quis ouvi-la
e
a ri no nosso ouvido não vacila:
ao
mais crudo mutismo retrocede
e
ficamos ali, num ledo engano
esperando
que a “moça do toucado”
a
ligação nos dê pedida a um ano
resolve-se
por fim, mas liga errado:
vem
atender-nos o doutor Juliano
no
seu setenta-sul excomungado