Ainda
hoje se sepultam padres em interior de igrejas. Um dos maiores representantes
católicos da região, o bispo emérito Dom Waldyr Calheiros, foi enterrado nesta
segunda-feira (02) na Igreja Santa Cecília. O padre que em meio as pregações
fazia um falsete na voz, com propriedades de um bom cantor, bispo da diocese Barra do Piraí/Volta Redonda, por cerca de mais de três décadas, morreu na manhã de
sábado (30/11), no Hospital da Unimed, em Volta Redonda.
Dom
Waldyr tinha 90 anos e era um sacerdote carismático. Enfrentou a ditadura
militar com firmeza, denunciando as arbitrariedades e torturas ocorridas nas dependências
do 1° BIB (Batalhão de Infantaria Brindada), atual Parque da Cidade, em Barra
Mansa. Ocasião em que livrou várias pessoas da prisão e gostava de lembrar "que se fez preso". Ficou
por mais de 12 horas no batalhão exigindo seu encarceramento e a libertação das
pessoas ligadas a ele. “O subversivo sou eu, não as pessoas que ai estão”.
Participou
e lembrava no altar das lutas trabalhistas nas greves da CSN (1979 e 1988) e da
Greve da Botina, na Siderúrgica Barra Mansa (SBM), do grupo Votorantim, onde
operários não tinha roupas, nem botinas para o trabalho. A SBM na época era chamada
de “Museu”.
Além de
falar nas missas das necessidades dos metalúrgicos, Dom Waldyr visitou, por muitas
vezes, locais de concentrações e comunidades, conversando com familiares dos
grevistas, dando o alento da palavra, incentivando os mutirões em favor das
paralisações. Sofreu, celebrou, lembrando das conquistas dos trabalhadores, quando da morte dos três operários no interior da usina e, também, por ocasião da morte trágica e “suspeita” do sindicalista Juarez Antunes, morto prefeito de Volta Redonda.
Alguns segmentos da igreja católica progressista representavam a
voz do povo, cumprindo revolucionariamente um papel negado aos pobres desde a
chegada dos europeus ao país. Dom
Waldyr fez a parte que lhe coube.
Muitos “igrejeiros”, depois politizados, devem
sua iniciação ao bispo. Sua morte torna-se “um fato político” dos mais
importantes da região, que movimentou moradores diversos, envolvendo mais de 5 mil pessoas, católicas ou não,
entre visitações à Igreja N. Sra. da Conceição, no bairro Conforto - no velório e na missa de corpo presente (celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro,
Dom Orani João Tempesta), e a Igreja Santa
Cecília, onde o bispo foi sepultado, depois do cortejo desfilar por ruas da
cidade.
“Felizes
os mortos, os que desde agora morrem no Senhor.
Sim,
diz o Espírito, que eles descansem de suas fadigas,
pois
suas obras os acompanham” (Ap 14,13)
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB expressa seu pesar pelo
falecimento do bispo emérito da diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ),
dom Waldyr Calheiros Novaes, aos 90 anos, ocorrido na manhã de hoje, 30 de
novembro de 2013.
Dom
Waldyr era natural de Muricy (AL). Foi bispo auxiliar de São Sebastião do Rio
de Janeiro, de 1964 a 1966, e bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda, de 1966 a
1999. É autor do livro ‘O bispo de Volta Redonda, Memórias de Dom Waldyr’. Seu
lema era: “Amém Aleluia”.
Em sua
trajetória episcopal, esteve envolvido com causas sociais, apoiando iniciativas
de evangelização que defendem os direitos humanos.
Neste
momento de dor, a CNBB manifesta solidariedade à família de dom Waldyr
Calheiros Novaes, à diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda e ao bispo
diocesano, dom Francesco Biasin.
“Em
oração, agradecemos o dom da vida e ministério deste nosso irmão que tanto se
dedicou à Igreja no Brasil, reafirmamos nossa fé na Ressurreição e a certeza de
que ele descansa de suas fadigas, na paz eterna do Senhor, pois suas obras o
acompanham”.
Leonardo
Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília
Secretário
Geral da CNBB