03 dezembro, 2013

DOM WALDYR É ENTERRADO EM IGREJA DE VOLTA REDONDA

Ainda hoje se sepultam padres em interior de igrejas. Um dos maiores representantes católicos da região, o bispo emérito Dom Waldyr Calheiros, foi enterrado nesta segunda-feira (02) na Igreja Santa Cecília. O padre que em meio as pregações fazia um falsete na voz, com propriedades de um bom cantor, bispo da diocese Barra do Piraí/Volta Redonda, por cerca de mais de três décadas, morreu na manhã de sábado (30/11), no Hospital da Unimed, em Volta Redonda.
Dom Waldyr tinha 90 anos e era um sacerdote carismático. Enfrentou a ditadura militar com firmeza, denunciando as arbitrariedades e torturas ocorridas nas dependências do 1° BIB (Batalhão de Infantaria Brindada), atual Parque da Cidade, em Barra Mansa. Ocasião em que livrou várias pessoas da prisão e gostava de lembrar "que se fez preso". Ficou por mais de 12 horas no batalhão exigindo seu encarceramento e a libertação das pessoas ligadas a ele. “O subversivo sou eu, não as pessoas que ai estão”.
Participou e lembrava no altar das lutas trabalhistas nas greves da CSN (1979 e 1988) e da Greve da Botina, na Siderúrgica Barra Mansa (SBM), do grupo Votorantim, onde operários não tinha roupas, nem botinas para o trabalho. A SBM na época era chamada de “Museu”. 
Além de falar nas missas das necessidades dos metalúrgicos, Dom Waldyr visitou, por muitas vezes, locais de concentrações e comunidades, conversando com familiares dos grevistas, dando o alento da palavra, incentivando os mutirões em favor das paralisações. Sofreu, celebrou, lembrando das conquistas dos trabalhadores, quando da morte dos  três operários no interior da usina e, também, por ocasião da morte trágica e “suspeita” do sindicalista Juarez Antunes, morto prefeito de Volta Redonda. 
Alguns segmentos da igreja católica progressista representavam a voz do povo, cumprindo revolucionariamente um papel negado aos pobres desde a chegada dos europeus ao país. Dom Waldyr fez a parte que lhe coube. 
Muitos “igrejeiros”, depois politizados, devem sua iniciação ao bispo. Sua morte torna-se “um fato político” dos mais importantes da região, que movimentou moradores diversos, envolvendo mais de 5 mil pessoas, católicas ou não, entre visitações à Igreja N. Sra. da Conceição, no bairro Conforto - no velório e na missa de corpo presente (celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta),  e a Igreja Santa Cecília, onde o bispo foi sepultado, depois do cortejo desfilar por ruas da cidade.


CNBB  - A morte do bispo emérito católico, Dom Waldyr Calheiros Novaes, foi anunciada em nota pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

“Felizes os mortos, os que desde agora morrem no Senhor.
Sim, diz o Espírito, que eles descansem de suas fadigas,
pois suas obras os acompanham” (Ap 14,13)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB expressa seu pesar pelo falecimento do bispo emérito da diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ), dom Waldyr Calheiros Novaes, aos 90 anos, ocorrido na manhã de hoje, 30 de novembro de 2013.
Dom Waldyr era natural de Muricy (AL). Foi bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro, de 1964 a 1966, e bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda, de 1966 a 1999. É autor do livro ‘O bispo de Volta Redonda, Memórias de Dom Waldyr’. Seu lema era: “Amém Aleluia”.
Em sua trajetória episcopal, esteve envolvido com causas sociais, apoiando iniciativas de evangelização que defendem os direitos humanos.
Neste momento de dor, a CNBB manifesta solidariedade à família de dom Waldyr Calheiros Novaes, à diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda e ao bispo diocesano, dom Francesco Biasin.
“Em oração, agradecemos o dom da vida e ministério deste nosso irmão que tanto se dedicou à Igreja no Brasil, reafirmamos nossa fé na Ressurreição e a certeza de que ele descansa de suas fadigas, na paz eterna do Senhor, pois suas obras o acompanham”.

Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB  

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