Foto: Construção construída na época da
escravidão - Colônia Santo Antônio - Barra Mansa-RJ
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Há 132 anos, diria ela se a crônica fosse feita hoje. "Falamos tanto em acabar com as injustiças sociais e às vezes não conseguimos mudar as regras dentro da própria casa", destaca. E é o que se constata a todo momento, com regras que se estendem para fora de casa, inclusive, agora, com a pandemia. Ações racistas de torcedores no passado recente, de patrões que usou o isolamento social para segregar e, até, dos que contaminaram o subordinado e o mandou para casa.
Em O Globo, domingo passado, Bernardo Mello Franco revela o citado acima e outros casos em que pessoas ainda sentem o peso da discriminação. Há 120 anos, Joaquim Nabuco profetizou: "A escravidão permanecerá por muito tempo como característica nacional do Brasil", abre o artigo contando fato ocorrido com Cleonice Gonçalves, 63 anos, primeira vítima do coronavírus no Estado do Rio. Era empregada doméstica desde os 13 anos, em um apartamento no Alto Leblon. Sua patroa voltou da Itália com sintomas do Covid-19 e a manteve no serviço. Ela pegou a doença e foi despachada de táxi para Miguel Pereira, onde morreu no dia seguinte num hospital municipal.
Franco Mello conta outra. Zenaldo Coutinho, prefeito de Belém, incluiu o trabalho das domésticas entre as "atividades essenciais". Com isso (é o seu relato na íntegra), faxineiras, lavadeiras, cozinheiras e babás poderão ser convocadas no período de lockdown. Segundo o tucano, a medida beneficiará quem "precisa ter alguém em casa". A capital do Pará não tem mais vaga nos hospitais, mas os ricos encontraram uma alternativa. Passaram a freta "UTIs aéreas", que decolam para São Paulo por até R$ 200 mil.
Outras "pérolas" do artigo demonstram a escravidão profetizada. Mas, é bom parar na citação de Darcy Ribeiro: "Os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada como falsa 'democracia racial', raramente percebem os profundos abismos que por aqui separam os estratos sociais". Para mencionar a estupidez de um bilionário, que não percebe que sua riqueza contrasta com as desigualdades do país e que disse: "O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela.
"Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social que perpetua a eternidade", é a conclusão do antropólogo, escritor e político, escrita há 25 anos e trazida pelo colunista.
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