Esta semana lia a coluna do Artur Xexéo em O Globo, quando ele protesta contra as
ciclovias e abre seu texto dizendo “fazer
parte da menor parcela da humanidade que não identifica marcas de carros”. Trocaria
“a menor” por “a maior” e constato que também estou nessa. São tantos os carros
que vemos hoje circular, entre os importados e os produzidos no país, que é
mesmo difícil saber a marca de um ou de outro.
Sou do tempo em que os carros em
vitrine diária tinham domínio público, pois eram conhecidos simplesmente, ou a
maioria das vezes, pelo nome de fabricação: Volquis
ou Fusca (que inspirou uma grande balada sertaneja, justamente o preto que
nunca foi comum) Fiati, Maverique o Chevetti (que também teve balada, para a tristeza das Ivetes)
e o Corcel, que depois virou
Corcel Dois.
Falava-se em outros, mas quando
o assunto era carro, eram estes nomes que viam à mente, sem medo de errar.
Atualmente não é assim e a cada dia nos surpreendemos com um nome novo. Mas, em
um tempo mais antigo, convivi com a Rural e o Jipi, que ainda é Jeep. Uma época
já documentada aqui, quando eu com meus dois irmãos disputávamos as
propriedades automobilísticas; acho que toda criança brincou disso.
Do alto de nossa casa, que
não era apartamento, apontávamos o carro que apontava e gritávamos que “era nosso”.
- Aquele é meu!
– gritava eu
ou um dos meus irmãos. O critério, criado no íntimo de nossa consciência
infantil, era inteligente; caso não gostasse da cor ou marca, mesmo ao ver primeiro “não tomávamos
posse”. Assim, cada um se deliciava o carro que era seu.
São brincadeiras
interessantes como a da cusparada mais longe, lembrada em um dos desenhos do grande
cartunista Angeli. São saudades de criança; do tempo da inocência.