Em 1958, o jornalista Fernando Gabeira tinha apenas 17 anos quando dirigiu uma assembléia no auditório da Rádio PRB-3, em Juiz de Fora/MG. Na ocasião, não sabia nada do que era o Partido Comunista (PC). Na mesa, ele fez um discurso inflamado pedindo greve contra os aumentos das anuidades escolares. A assembléia ficou calada.
De repente, do fundo da platéia, levanta-se um homem de cabelos brancos e com um discurso de pai que sente na carne o alto preço das anuidades, apela para que todos acatem à greve. A paralisação foi aprovada pela assembléia.
Anos depois, Gabeira volta a Juiz de Fora e encontra o velho da platéia em um botequim freqüentado por intelectuais da cidade. Ele pergunta a Gabeira.
- Como é, entrou para o Partido Comunista?
- Eu não, e seus garotos?
- Que garotos?
- Seus filhos.
- Que filhos? Não tenho filhos.
- Como, se você é o pai que virou a assembléia, o pai da nossa greve.
- ... Não sou pai de ninguém. Os pais que iam à assembléia ficaram doentes e o Partido determinou que eu fosse fazer o papel de pai. Tinha cabelo branco, sabia falar. Agora já acabei com isso. Acho muito chato.
- O que é que você está tomando? pergunta Gabeira, ainda surpreso.
- Caipirinha. Tá boa. Pede uma também.
Texto extraído e adaptado do livro "O que é isso companheiro?", de Fernando Gabeira - Editora Nova Fronteira.
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