Aconteceu no Rio de Janeiro. Três militares do Exército entram em um parque público e lá encontram um grupo de jovens homossexuais. Já era noite e local estava deserto àquela hora. Os jovens namoravam ou conversavam, não importa. Na versão de quem estava lá, o trio intimidou os rapazes: pediram documentos, números de telefone, ameaçaram ligar para seus parentes e contar "o que estavam fazendo". Um deles não se assustou com a atitude dos militares e, possivelmente, discutiu com eles e levou um tiro na barriga. Antes, numa passeata Gay, ouvirá discursos contra a homofobia.
A vítima - um rapaz de 19 anos de muita coragem, atendida em um hospital, encontrou forças foi à Polícia e depois ao quartel identificar seus agressores. As versões se contradizem: primeiro, em nota oficial, o Exército nega a participação de membros da corporação no episódio, depois revela que um deles confessou ter atirado, porém que o tiro foi "acidental".
“Ninguém está livre de acidentes. Mas o conceito de "acidente" parece um pouco distante quando um militar abandona seu posto, perambula armado por uma área fora de suas atribuições e atinge "sem querer" um jovem gay que namorava ou apenas conversava com um amigo”, brilhante avaliação da jornalista Cristina Grillo. A própria vítima pediu ajuda de seu celular. Esperava-se, por humanidade, que depois de acertar um tiro, sem querer, na barriga de um cidadão, qualquer pessoa buscaria socorro. Mas, não foi o que aconteceu.
Artigo editorial de Cristina Grillo, extraído da Folha de São Paulo de 22/11/2010
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