A grande festa se resume em alegria para uma multidão de foliões e tristeza para alguns: parentes e amigos dos que morrem nos acidentes, na violência do trânsito nas estradas e nos crimes. Muitos vão chorar pelas filhas grávidas, violentadas em sua adolescência; pelos filhos assassinados nas brigas e no tráfico. É a oportunidade da grande festa. A oportunidade do exagero de todos os tipos de drogas.
Mas, o grande cortejo vai prosseguir levando este bordão: Hoje é Carnaval! Tudo pela carne, para uma grande maioria. E o mundo vai continuar a girar!
Salve, os que se preservarem! E que se salve todos.
Saúde e Paz!
Deixo essa reflexão feito ás vésperas e o texto abaixo, intitulado Doce Ilusão do Deputado Chico Alencar, extraído do Almanaque Santo Antônio, 2007. Editora Vozes Ltda. www.vozes.com.br
As festas o populares, na história da humanidade, são sempre denúncia e anúncio. Denúncia, pelo riso e pela ironia, de tudo o que entristece a vida, machuca as pessoas, suja o mundo e encarece o pão: fome, doença, opressão. Anúncio do céu na terra que há de vir, com um planeta solidário, justo, costurado em festa, trabalho e afeição. Os seres humanos, ao longo do tempo, comemoraram colheitas, chegada de primaveras, independência, fim de guerra, negação do inferno.
O Carnaval, no Brasil, também nasceu assim: válvula de escape oferecida pelos senhores aos escravos, nos dias que antecediam a Quaresma, foi se transformando em folguedo, folia, celebração da liberdade que seria conquistada. Inversão de papéis: “O menino e a menina, e o doutor juiz, a bailarina”, cantaram Aldir Blanc e Moacyr Luz. Carnaval virou quilombo temporário. Ali os tambores soavam em repúdio ao sofrimento imposto pelo regime dos três pês: pau, pano e pão. O Carnaval bagunçava, na República Velha, os aristocratas que queriam ordem para os debaixo e progresso só para os de cima..
Claro que os governos tentaram policiar e civilizar o Carnaval: a Deixa Falar e a Sai Como Pode foram obrigadas a virar escolas (de samba) e seus enredos só podiam cantar “as coisas belas do nosso Brasil”. Não colou. A alegria é rebelde, a brincadeira rompe sempre o cordão de isolamento. É possível e preciso cantar e alegrar a cidade – nos blocos, nas marchinhas, nas fantasias e – por que não? – na Avenida dos Desfiles, apoteose de corpos suados que dançam a paz e de braços que se fazem abraços. Evoé, Momo!
Texto do deputado federal Chico Alencar
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