Casa onde morou alguém de nome Sofia - Foto: Cesar Dulcidi |
Livros de crianças revelam preciosidades. Sejam de história ou poesia; se for o último, melhor. O primeiro livro que minhas duas filhas conheceram, foi o “Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, achei por bem indicá-lo à elas.
A mais nova, antes da alfabetização, conviveu com a mesma história contada em livro-gibi, numa adaptação da saga do menino da jibóia engolindo uma cobra, que os adultos nunca identificam. É assim a vida; de vez em quando me surpreendia tentando fazer a mais nova entender o que entendi e não respeitando o que ela entendeu.
O livro, “Lua no Brejo”, do qual me encantei com a poesia que transcrevo abaixo, foi escolhido por ela na biblioteca da escola. O autor, Elias José, que já escreveu mais de cem livros e gosta de freqüentar escolas para falar de sua obra, é de uma sensibilidade muito grande com a literatura infantil. E neste livro, com ilustrações de Graça Lima, ele disseca os velhos bordões das cantigas do passado, mesclando-os com versos novos.
Como por exemplo: “... eu vi a barata na careca do vovô...”, com “eu vi a abelha no nariz da vovó”. E por ai, vai. Recria o “boi da cara-preta”,tornando-o um boi nacional, que ao mesmo tempo é “o boi do Pará, do Maranhão, da Bahia e do Rio de Janeiro”; ou utiliza o “atirei o pau no gato”, para dizer que “o gato, muito esperto, caiu fora da jogada”.
Em sua poesia, “a cigarra moderna” tem até sindicato e "o rato que rói a roupa do rei sofre um decreto e se torna réu". Engraçado é a paródia com a música de Caetano Veloso: ... “eu não sou daqui, sou do Piauí, Paraná e das Gerais”. “Pra” terminar e deixar todos com vontade de ler, a poesia “Lua no Brejo”, que dá nome ao livro, faz uma analogia com a formosura da natureza e a felicidade dos bichos como o sapo e a sapa, que batem um papo de amor. E o cágado e a borboleta que se percebem: “Quem ama é feliz”, atesta o primeiro.
E lá no alto, toda altiva e soberana, a lua manda com todo carinho um recado à terra: “...um beijinho à turma toda do brejo”. É muito bom!
NÃO TE CONTO NADA*
Este é um conto todo apressado,mal começo, está acabado.
Este é um conto de um urso,começo a contar e tusso.
Este conto fala de dona Sofia,mas lhe conto outro dia.
Era uma vez um ganso...Começo o conto e me canso.
Era uma vez uma pulga na balança...Este só conto na França.
Era uma vez um tal de seu Raimundo...Meu personagem sumiu no mundo.
Este é um conto de um galo penado...Não conto, está tudo acabado.
Este é um conto, um, dois, três...Vou embora, conte agora, é a sua vez.
*LIVRO: Lua no Brejo, 2ª edição, 2010 - Jose Elias - EDITORA PROJETO LTDA.