Em artigo publicado ontem em o Jornal do Brasil online, o teólogo Leonardo Boff diz que a crise atual pela qual passa o planeta, provém de um “tipo de civilização que colocou o ser humano como “senhor e dono” da natureza (Descartes)". E com isso, se sente à vontade para fazer o que quiser com ela. Boff cita o filósofo Francis Bacon, para dizer quer o ser humano tortura, é agressivo e mantém uma verdadeira guerra contra a natureza. Segundo Boff, o próprio cristianismo ajudou a legitimar e a reforçar esta visão. Nessa conclusão, cita Gênesis, na Bíblia: “Enchei a Terra e sujeitai-a e dominai sobre tudo o que vive e se move sobre ela”(1,28). Ele revela o equívoco do homem "branco" com relação à imagem e semelhança de Deus “(Gn 1,26).
É isso mesmo, por que os índios brasileiros, sob o julgo europeu, e a resposta do Cacique Seatle, em 1854, ao presidente norte-americano, não deixa dúvida de que os nativos não estariam dando à terra o mesmo tratamento.
Daí, conclui Boff, gerou-se o “antropocentrismo, uma das causas da crise ecológica”. Para ele, o monoteísmo retirou o caráter sagrado do mundo, concentrando-se tudo em Deus. E sem o sagrado, o ser humano deixou de respeitar o planeta.
As guerras mundiais e coloniais, a devastação atômica provocada pelos Estados Unidos no Japão e o saldo de mais de 200 milhões de mortes, tudo no século 20, fez o homem repensar. E diante de mais conclusões, Boff pergunta:
Quem domina um tsunâmi? Quem controla o vulcão chileno Puyehe? Quem freia a fúria das enchentes nas cidades serranas do Rio? Quem impede o efeito letal das partículas atômicas do urânio, do césio e de outras liberadas pelas catástrofes de Chernobyl e de Fukushima?
E se percebeu, mesmo com todos os avanços tecnológicos, a impotência diante da força da natureza. E Boff diz: Não somos Deus, e querer ser “Deus” nos leva à loucura.
Continuando, ele diz ser na Bíblia mesmo, ainda em Gênesis, que o homem vai retomar seu caminho na legitimação e dominação da terra, reconhecendo-se “como simples criaturas junto com todas as demais da comunidade de vida”.
- Temos a mesma origem comum: o pó da Terra. “A Terra gerou a todos. Deus ordenou: “Que a Terra produza seres vivos, segundo sua espécie”(Gn 1,24). Ela, portanto, não é inerte, é geradora e é mãe.
Já quase finalizando o artigo, Leonardo Boff conclui que a aliança de Deus não é só com o ser humano, mas “com a nossa descendência e com todos os seres vivos”(Gn 9,10).
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Leonardo Boff recebeu, em estande do Greenpeace no Rio de Janeiro,
DVDs e mapa do desmatamento da Amazônia. Foto: greenpeace.org |