23 julho, 2010

O "ELEFANTE BRANCO" ENFIM SE DESPEDE

O PRAZER ADQUIRIDO NINGUÉM PODE ROUBAR

Neste artigo de Eliane Cantanhêde fica bem explícito a lacuna que a saída de cena de um grande jornal como o do Brasil vai deixar. Para todos que cresceram lendo suas reportagens, seguindo sua linha editorial, deglutindo o enfoque de imparcialidade não visto em outros fica já "um gosto de saudade". Quem aprendeu a gostar do JB, construía na mente os ideais e a visão de mundo diferenciada. Ele agonizou por um bom tempo e quando se ouvia os comentários sobre o grande "elefante branco" que havia se tornado o prédio imponente na Zona Portuária, de todos aqueles que chegavam a Rodoviária Novo Rio, batia, junto com a brisa marina, uma saudade. E Cantanhêde vai além neste belíssimo artigo, reportado por muitos na Internet, lembrando da mesma situação do "Gazeta Mercantil" e dos profissionais que passaram pelo jornal. Fica a saudade e a certeza de que o conhecimento adquirido em uma publicação ninguém pode roubar.

Ei-lo na integra, com o título: Réquiem para o JB e a Gazeta

O fim melancólico da versão impressa do “Jornal do Brasil” dói no coração de gerações de leitores e de jornalistas brasileiros, como já havia ocorrido quando do último suspiro, ou da última edição, da “Gazeta Mercantil”. Foram ambas mortes lentas e anunciadas, deixando exposta a má administração de excelentes produtos.

Pelo JB, fundado em 1891, passaram desde Rui Barbosa até dezenas de repórteres, fotógrafos e colunistas que estão na ativa e viveram grandes momentos e grandes histórias num jornal que tinha vida e energia. Mas não tinha gestão.

Na “Gazeta Mercantil”, que começou a circular em 1920 e atravessou décadas como leitura obrigatória dos três Poderes, dos bancos, das empresas e de diferentes áreas das universidades, foram formados alguns dos mais importantes jornalistas de economia do país, como Celso Pinto, que deslanchou o “Valor Econômico”. Mas, como o JB, a Gazeta tinha talentos jornalísticos, não tinha competência gerencial.

Nos dois casos, repetindo o que se viu na Varig, as empresas sangraram ano após ano, vendo esvair seu principal capital: a força da marca, a credibilidade, a excelência de seus profissionais. Seus donos tentaram vender as dívidas e manter o controle editorial. A aritmética e a esperteza não fecharam.

Ouve-se daqui e dali que o fim da Gazeta e agora do JB impresso prenuncia a decadência inevitável e um rápido fim dos jornais. Há controvérsias. Os dois geraram suas próprias crises, que não tiveram nada a ver com a agressiva entrada da TV no jornalismo, o fortalecimento do noticiário 24 horas no rádio e muito menos com o vigor e a ascensão da internet. Foram crises particulares, não do setor.
Eles se foram, mas seus jornalistas estão por aí, em toda parte, aprendendo sempre e a cada dia numa profissão que é um aprendizado ininterrupto. A eles, meus queridos colegas tanto do JB quanto da Gazeta, um abraço de saudade e de reconhecimento.

Eliane Cantanhêde
Publicado no Jornal A Folha de São Paulo, em 18 de Julho de 2010

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