19 julho, 2015

POESIAS DE 1925 E 1926 DO BARRAMANSENSE OTÁVIO RANGEL PELO DIA DO TROVADOR

Igreja  de São Sebastião, centro de Barra Mansa
Foto: César Dulcidi
Em lembrança ao dia do trovador, 18 de Julho, trago uma versos de 1925, do poeta barramansense Otávio Rangel, que fez trovas incomodado com o sino da Igreja de São Sebastião, em Barra Mansa. Mas, não foi a única dele, no ano seguinte, a chateação foi com o serviço telefônico da cidade. Desta vez o soneto chama-se Suplício, publicado, como o outro, em jornais da época. 

O poeta morava no centro, provavelmente perto da igreja e tudo leva a crer, conforme revela em seu livro o historiador Alan Carlos Rocha, que a trova surge inspirada a partir do seu desassossego ou desconforto por causa do barulho. Ora bolas é uma expressão de sentido diversos. Pode significar indignação, atanazamento, um desabafo ou “deixa-pra-lá”. Na trova de Rangel, foi a segunda.

ORA BOLAS

desde cedo os ouvidos me atazana
pesado sino que me fica ao lado;
e, deste modo, à força despertado,
busco em vão conseguir nova pestana

dentre fofos lençóis zurzo com gana
quanto vil sacristão há no bispado;
se é de bronze o badalo tresloucado
não é de bronze a paciência humana

de que serve pregar padre taurino
em rasgos de estafante discurseira
a branda caridade, o amor divino?

é porventura “amor” esta inferneira?
é “caridade” despertar a sino
quem na pândega andou a noite inteira?

SUPLÍCIO

chega-se a gente ao telefone e pede
um número qualquer “central” ou “vila”
mas, a telefonista que refila
a ligação pedida não concede

diz ela, galhofeira, lá na sede
que o número em questão não quis ouvi-la
e a ri no nosso ouvido não vacila:
ao mais crudo mutismo retrocede

e ficamos ali, num ledo engano
esperando que a “moça do toucado”
a ligação nos dê pedida a um ano

resolve-se por fim, mas liga errado:
vem atender-nos o doutor Juliano
no seu setenta-sul excomungado

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