As atrocidades cometidas pelos soldados alemães de Hitler foram relatadas por um sobrevivente de Auschwitz, no dia 8 de Junho, na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Barra Mansa. Aleksander Henryk Laks, hoje com 83 anos, revelou uma realidade diabólica, de horror e morte, vivida por ele desde os seus 12 anos, iniciada na cidade de Lodz, na Polônia. Uma realidade quase inacreditável, diferente da divulgada nos livros de História, que parece mentira. Aliás, ele e o pai escaparam por diversas vezes da morte e alimentaram por muito tempo a ideia de que os que eram levados do gueto iam para lugar melhor, como diziam os soldados. “Os nazistas enforcavam os judeus nos postes de luz, onde ficavam expostos”. Cenas presenciadas pelo menino Henryk: "havia um rumor na cidade de que os alemães penduraram bonecos de ceras para nos assustar. Essa era uma defesa de nossa mente, por nos ser impossível aceitar o que víamos... mas, eram seres humanos... eram seres humanos.."
Revelação, como esta, emocionante que Henryk não saberia dizer quantas vezes proferiu em palestras, por tantos lugares. Mas, é o alento que o fez viver, obedecendo a uma determinação do pai antes de ser morto, de que vivesse e contasse, para que nunca mais ocorresse tal monstruosidade no mundo. Dos detalhes, tantos, monstruosos ocorridos com as pessoas, relatadas por Henryk, destacam-se a oração ensinada por um dos professores do gueto, na verdade um hino, um apelo, cantado pelas crianças, inclusive ele. E aqui, ele assegura: perdemos todos os bens materiais, mas não perdemos a dignidade:
Nós, crianças, rogamos-Lhe,
nosso Deus, criador do mundo:
conceda-nos uma vida delicada e pura
e cultive, em nós, a bondade.
nosso Deus, criador do mundo:
conceda-nos uma vida delicada e pura
e cultive, em nós, a bondade.
E na transcrição abaixo, do livro*1 escrito por Henryk, apesar de todo o sofrimento, ele reconhece o amor da madrasta. Ela, junto com seu pai, colaborou para sua sobrevivência, para que ele pudesse revelar ao mundo a crueldade capaz de ser executada por “humanos”. Humanos mais frios que o assaltante que arrasta alguém preso ao cinto de segurança de um carro e de outro que atira em um bebê chorando em uma instituição bancária no Brasil. Ambos, por uma ação demoníaca, talvez sob o efeito de drogas e nervosismo. Injustificáveis e terríveis. Porém, os atos praticados pelos alienados liderados por Hitler, foram ideologicamente satânicos, um atentado contra a humanidade.
Eis o texto:
As pessoas magras podiam ir ao médico. Dependendo do caso, ganhavam-se duzentos gramas a mais de pão. Essa era a medicação. Não havia remédios no gueto. O doente recebia duzentos gramas adicionais de pão e mais duzentos na semana seguinte. Na verdade, era arriscado ir ao médico, por que o Judenrat*2 registrava o fato, e a pessoa podia ser indicada para a deportação seguinte, por estar doente. Minha mãe estava muito magra. Mesmo correndo risco, ela foi ao médico e ganhou uma receita que lhe permitiu obter o pão e um pedaço de margarina. Na semana seguinte, ganhou outro pão e outro tanto de margarina, e a receita ficou retida. Minha mãe não comeu este pão; fui eu que comi. Essa foi a maneira que ela arrumou para conseguir um pouco mais de pão para mim. Talvez eu tenha sobrevivido por causa disso. Não só pela cota adicional de pão, mas também pela quantidade infinita de amor que recebi de minha mãe. Aquela que deveria ser só a minha madrasta tornou-se a minha mãe de fato, em substituição à mãe biológica que me foi tirada tão cedo.
*2 Judenrat – representava o conselho judaico gueto. Mordechai Chaim Rumkovski administrava as questões dos internas dos judeus, conforme às exigências dos alemães.Era arrogante, segundo Henryk e ninguém gostava dele.
*1 A palestra proferida no auditório da APAE foi organizada por professores de História e pela coordenação do Colégio Estadual Baldomero Barbará. O livro escrito por Henryk chama-se “O Sobrevivente – Memórias de um brasileiro que escapou de Auschwitz, de Aleksander Henryk Laks com Tova Sender”.
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