30 junho, 2012

O CANTO DE CLARICE LISPECTOR NA VOZ DE SCLIAR

“Clarice Lispector era surpreendente em tudo, inclusive nos títulos que dava às suas obras. Exemplo é a curta (155 páginas) novela publicada pela primeira vez em 1969 e que se chama Uma Aprendizagem, ou O Livro dos Prazeres”. Escreveu na revista CartaCapital o saudoso escritor gaúcho Moacyr Scliar.
 “O que está no dizendo Clarice?”. Pergunta ele em seu texto ao mesmo tempo em que sai respondendo, concluindo que aprender com prazer é o princípio básico de toda a pedagogia e é o que todos verdadeiros mestres sabem e praticam. O escritor conta que Clarice enfatiza o valor da entrega, do amor como antídotos para a falsidade e a hipocrisia.
A escritora diz: “Não temos amado acima de todas as coisas.” Scliar lembra: o 1° Mandamento fala em “amar a Deus acima de todas as coisas”. Mas, segundo ele, não é somente amar a Deus que a escritora está dizendo. É amar a tudo e a todos, entregar-se; não adianta amontoar “coisas e segurança”, nem buscar alegrias catalogadas, estereotipadas.
E Scliar prossegue: “apesar dos riscos, apesar dos obstáculos, apesar dos pesares, deve-se viver, deve-se comer, deve-se amar, deve-se morrer – morrer, sim; é parte da vida". E nos versos Clarice canta, assim como  Chico Buarque cantou tentando  enganar a Ditadura.
“Aprendi que se deve viver apesar de.
 Apesar de, se deve comer. 
Apesar de, se deve amar. 
Apesar de, se deve morrer”. 
E Scliar conclui, brilhantemente, que o livro de Clarice Lispector descreve uma aprendizagem que implica prazeres: “o prazer da entrega, o prazer de amar, mas também o prazer da própria aprendizagem”. É isto que Clarice nos ensina, diz ele. 


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