30 novembro, 2011

BRASILEIROS SE DESPEDEM SEM SAIR NA ONU

Marcos de Azambuja
Foto: www.camara.gov.br
À época da construção de Brasília, Marcos de Azambuja, escreve sobre a diferença de trato entre brasileiros e estrangeiros; as gentilezas e o aguardo aos retardatários e o destaque de diferenças culturais; o choque de civilizações.
Em uma viagem em missão à ONU (Organização das Nações Unidas), atitudes de brasileiros fizeram sucumbir um sistema de elevadores do prédio da própria Organização, um dos mais modernos de Manhathan, naquela data. 
O texto abaixo, que retrata tal momento, suprimido algumas frases, foi extraído do artigo intitulado Videla é a Mãe, da Revista Piauí - Flip2011.

"Tenho de 1960 as mais persistentes recordações. ... Ser moço é sempre bom. Estar em Nova York também é quase sempre bom. ... A nossa missão junto à ONU ocupava todo um andar de um prédio na Park Avenue, entre as ruas 54 e 55, endereço então, como ainda agora, de grande prestígio. ... Meu primeiro desafio foi falar com o administrador do prédio. Ele veio nos ver acompanhado de um engenheiro especializado e com uma grave suspeita. A bateria de elevadores do prédio, numerosos e de última linha, entrara em colapso. ... O administrador confessou-me terem feito algumas investigações. E descobriram que éramos nós, brasileiros, a causa de todo o transtorno. Haviam previsto a parada de cada elevador por um número preciso de segundos. Mas no nosso andar a pausa era imprevisível, e muito mais longa. Por causa de uma mistura de gentilezas e respeito a precedências; por esperar algum retardatário para quem mantínhamos a porta aberta; por uma mensagem de última hora que não podia deixar de ser dada; para ajudar alguém a entrar num sobretudo, tínhamos desorganizado todo o sistema.
Diante desse verdadeiro choque de civilizações, pediam-me, o administrador e o engenheiro, que os ajudasse a resolver o imbróglio. Prometi que faria alguma coisa, mas, naturalmente, não mudamos nossos hábitos nem encurtamos as nossas gentilezas.
Acredito que os americanos, com sua tecnologia, devam ter encontrado uma nova programação, que ajudou a superar o problema. Ficou-me a constatação, de que a nossa liturgia de partidas tem um ritmo que não pode ser abreviado. E que, se os franceses saem sem se despedir, os brasileiros se despedem sem sair".
Marcos Castrioto de Azambuja  - diplomata brasileiro. Foi Chefe da Delegação do Brasil para Assuntos de Desarmamento e Direitos Humanos, em Genebra (1989-1990), Secretário-geral do Itamaraty (1990-1992), Coordenador da Conferência Rio 92, tendo no mesmo ano servido na embaixada da Argentina (1992-1997) e em seguida na França (1997-2003). Fonte: Wikipédia 

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