08 agosto, 2009

QUEM PROTESTA CONTRA FOME? OS MISERÁVEIS NÃO FAZEM PROTESTO

Mortes precoces são provocadas por apenas quatro fatores, conforme lembrou o escritor Frei Betto, em seu artigo semanal publicado em O Globo, na primeira quinzena de Julho. São eles acidentes (de trabalho ou trânsito) ; violência (assassinatos, terrorismo ou guerra); e enfermidades (aids ou câncer). Já a fome produz o maior número de vítimas, entretanto, é a que menos suscita mobilizações. Há sucessivas campanhas contra o terrorismo ou pela cura da aids, mas quem protesta contra a fome? Os miseráveis não fazem protesto. Só quem come , entra em greve, sai às ruas para expressar seu descontentamento, conseguindo adesões e apoio. E estes não sofrem ameaçam de fome. Já os famintos, são ignorados.

Este é o texto na íntegra de Frei Betto, com os dados, que segue, sobre a fome no planeta.

Segundo ele, há 950 milhões de pessoas ameaçadas pela fome crônica. Frei Betto é bem claro: a fome é o que há de mais letal inventado pela injustiça humana. Causa mais morte que todas as guerras. Elimina cerca de 23 mil vidas por dia e quase mil pessoas por hora, sendo as crianças as principais vítimas.

- "Quase ninguém morre por falta de alimentos. O ser humano suporta quase tudo: políticos corruptos, humilhações, agressões, indiferenças, a opulência de uns poucos. Até o prato vazio. Por isso ninguém morre da falta completa de alimentos", escreveu o Frei. E ele tem razão. Veja agora agora o caso de Sarney, relembre outros. Pense nas humilhações do dia à dia, no trabalho por exemplo; no vergonhoso salário mínimo em contraste com as remunerações dos políticos; nas agressões à família da TV e na indiferença da Justiça Brasileira com relação às corrupções no poder público. E as muitas ocorridas neste país e divulgadas na mídia. Tudo isso fazendo gerar mais violência.

COMO O G-8 É CÍNICO!

No início de Julho, os líderes das nações mais ricas e poderosas do mundo, o Grupo dos 8, reunidos na Itália, decidiram liberar 15 bilhões de dólares para aplacar a fome do mundo. Mas, o próprio G-8 é responsável por famintos serem multidão, diz o escritor. "Eles não existiriam se as nações metropolitanas não adotassem políticas protecionistas, barreiras alfandegárias, transnacionais de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Não morreriam de fome cerca de 5 milhões de crianças por anos se o G-8 não manipulasse a Organização Mundial do Comércio (OMC), não incentivasse a desigualdade social e tudo isso que a aprofunda: o latifúndio, a especulação dos preços dos alimentos, a apropriação privada da riqueza".

E Frei Betto vai além: apenas 15 bilhões de dólares! E ele lembra que estas nações mais ricas que formam o G-8 destinaram mil vezes US$ 15 bilhões, entre setembro de 2008 a julho de 2009, para salvar o mercado financeiro mundial. A quantia oferecida para aplacar a fome da humanidade "serve apenas para oferecer uns caramelos a alguns famintos" e boa parte dela vai para o bolso dos corruptos ou para a campanha eleitoral.

Na avaliação do ex-padre, se o G-8 tivesse de fato intenção de erradicar a fome no mundo, promoveria mudanças nas estruturas mercantilistas que regem a produção e o comércio mundiais. Canalizaria mais recursos às nações pobres que aos agentes do mercado financeiro e à indústria bélica.

- "Se os donos do mundo quisessem realmente acabar com a fome, eles tornariam o latifúndio um crime de lesa-humanidade e permitiriam a livre circulação de alimentos, assim como ocorre com o dinheiro", exemplificou Frei Betto. E numa comparação com um dos maiores males da humanidade, o narcotráfico, diz que a ação do G-8, poderia, em vez de prender uns poucos traficantes, colocar suas máquinas de guerra par destruir de uma vez por todas os campos de plantação de maconha, de coca, de papoula e de outros vegetais, transformando-os em áreas de agricultura familiar.

O escritor diz que o cinismo dos líderes mundiais chegam ao ponto de estabelecer bases de sustentabilidade ambiental a partir de 2050.
- "Ora, se a natureza algo ensina de óbvio é que, a médio prazo, estaremos todos mortos! Se a Terra já perdeu 25% de sua capacidade de autorregeneração, o que acontecerá se a humanidade tiver que esperar mais 40 anos para que se tome medidas eficazes"? Pergunta, em seu texto, Frei Betto. E conclui:

"Se aqueles que não passam fome tivessem, ao menos, fome de justiça, virtude qualificada por Jesus como bem-aventurança, então a esperança em um futuro melhor não seria vã".

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