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09 outubro, 2010

A LUA MANDA UM ABRAÇO A TODA TURMA DO BREJO

Casa onde morou alguém de nome Sofia - Foto: Cesar Dulcidi
Livros de crianças revelam preciosidades. Sejam de história ou poesia; se for o último, melhor. O primeiro livro que minhas duas filhas conheceram, foi o “Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, achei por bem indicá-lo à elas.
A mais nova, antes da alfabetização, conviveu com a mesma história contada em livro-gibi, numa adaptação da saga do menino da jibóia engolindo uma cobra, que os adultos nunca identificam. É assim a vida; de vez em quando me surpreendia tentando fazer a mais nova entender o que entendi e não respeitando o que ela entendeu.
O livro, “Lua no Brejo”, do qual me encantei com a poesia que transcrevo abaixo, foi escolhido por ela na biblioteca da escola. O autor, Elias José, que já escreveu mais de cem livros e gosta de freqüentar escolas para falar de sua obra, é de uma sensibilidade muito grande com a literatura infantil. E neste livro, com ilustrações de Graça Lima, ele disseca os velhos bordões das cantigas do passado, mesclando-os com versos novos.
Como por exemplo: “... eu vi a barata na careca do vovô...”, com “eu vi a abelha no nariz da vovó”. E por ai, vai. Recria o “boi da cara-preta”,tornando-o um boi nacional, que ao mesmo tempo é “o boi do Pará, do Maranhão, da Bahia e do Rio de Janeiro”; ou utiliza o “atirei o pau no gato”, para dizer que “o gato, muito esperto, caiu fora da jogada”. 
Em sua poesia, “a cigarra moderna” tem até sindicato e "o rato que rói a roupa do rei sofre um decreto e se torna réu". Engraçado é a paródia com a música de Caetano Veloso: ... “eu não sou daqui, sou do Piauí, Paraná e das Gerais”. “Pra” terminar e deixar todos com vontade de ler, a poesia “Lua no Brejo”, que dá nome ao livro, faz uma analogia com a formosura da natureza e a felicidade dos bichos como o sapo e a sapa, que batem um papo de amor. E o cágado e a borboleta que se percebem: “Quem ama é feliz”, atesta o primeiro.
E lá no alto, toda altiva e soberana, a lua manda com todo carinho um recado à terra: “...um beijinho à turma toda do brejo”. É muito bom!

NÃO TE CONTO NADA*

Este é um conto todo apressado,
mal começo, está acabado.

Este é um conto de um urso,
começo a contar e tusso.

Este conto fala de dona Sofia,
mas lhe conto outro dia.

Era uma vez um ganso...
Começo o conto e me canso.

Era uma vez uma pulga na balança...
Este só conto na França.

Era uma vez um tal de seu Raimundo...
Meu personagem sumiu no mundo. 
Este é um conto de um galo penado...
Não conto, está tudo acabado.

Este é um conto, um, dois, três...
Vou embora, conte agora, é a sua vez. 
*LIVRO: Lua no Brejo, 2ª edição, 2010 - Jose Elias - EDITORA PROJETO LTDA.